terça-feira, 15 de maio de 2012

Uma experiência triste


AMIGOS

Transcrevo uma experiência de um espirito sofredor, transmitida num Grupo Espirita, para quem não conhecer nada sobre a vida para além da morte ter uma ideia e quem souber, possa relembrar...
 

Fui hoje trazido a esta casa para relatar minha triste história e assim servir de alerta para muitos dos que militam na vida como pessoas consideradas de bem. Por muito tempo tive em minhas mãos a oportunidade de instruir outros. Convivi desde a infância com a idéia de conduzir pessoas e para isso fui formado. Formei-me em Filosofia, Psicologia e Teologia e logo me vi cheio de sabedoria. Entretanto, esses conhecimentos trouxeram grande desconforto, dúvida e inquietação para minha alma, pois sem as ferramentas da fé raciocinada não encontrava Deus em nenhuma dessas ciências teóricas. Mesmo a Teologia ensinava de forma superficial e muito acadêmica a idéia da Criação e sua relação com o Criador.

Após anos de estudo e ensino em uma grande universidade e muitos conflitos íntimos, envolvi-me com movimentos políticos em eras de mordaça. Foi quando vi o meu mundo abrir-se para coisas com mais sentido. Porém, associei-me aos ideais da radicalismo e exageros de homens que sequer sabiam a razão da vida. Logo desencantei-me também com aquela feição da vida e isolei-me profunda e irreversivelmente em meu mundo, trancando-me em mim mesmo por quase dez anos, envolvido em tormentos e angústias de toda ordem. Internado por cinco vezes como louco, fui submetido a toda sorte de maus tratos que eles davam o nome de terapia. Além de não contar com a ajuda de ninguém, ainda tinha de amargar a ironia dos que estavam ali para cuidar dos doentes.

Um dia, decidi dar cabo à minha vida e no auge de meu desespero bebi uma grande quantidade do veneno a que chamavam remédio, o que me fez adormecer para nunca mais acordar na carne. Por muito tempo fiquei dormindo ao lado de meu corpo. Julgava-me morto com ele e via aterrorizado os germes devorando cada parte do arcabouço carnal. Eu, preso ao corpo pelos liames da mente, não conseguia entender como, estando morto, poderia sentir as dores da destruição. Além disso, vozes estertorosas me atormentavam dizendo que minha sabedoria tinha me rendido muitas glórias, mas que naquela hora estava reduzida a nada. Davam risadas, ironizavam meu estado, entretanto eu, que nada via além do meu corpo, não conseguia responder a nenhum insulto. A voz não saía, pois pensava comigo que morto não falava.

Depois de muito sofrimento e desespero, lembrei-me de minha infância de repente. Em minha mente fez-se uma pausa entre os tormentos e me vi criança, nos braços de minha avó a me acariciar e contar belas histórias. Embalado por este pensamento pensei em Deus, fiz uma desesperada prece de socorro e adormeci de cansaço. Fui acordado por uma equipe de abnegados “anjos” em um local aprazível, com meu corpo refeito das marcas horríveis da decomposição. Nada entendia, mas senti grande alívio, como se tivesse saído do inferno para o céu.

Certo tempo depois, fui trazido juntamente com um grupo de amigos em iguais condições a esta casa para ouvir as lições que mudariam definitivamente minha visão de vida e do mundo. Chorei copiosamente ao ouvir as palavras do Instrutor, que irradiava intensamente quem fazia uso da oratória. Compreendi a razão da vida, os erros cometidos e equívocos vividos e ensinados. Uma lição soou forte em meu Espírito: “Ai daquele que ensinar o erro aos pequenos, pois melhor seria que amarrasse uma pedra no pescoço e se atirasse ao mar”. Compreendi o rigor da Lei. Amigos, foi o que aconteceu comigo. A Lei de Deus mostrou-me amargamente o resultado do meu orgulho e a inoperância do meu saber. Grande estudioso da alma, não sabia sequer fazer uma prece de gratidão a Deus pelos dons recebidos.

Falhei, sofri e retornei ao mundo verdadeiro, como um fracassado para somente mais tarde refazer a minha caminhada, em condições que só a Deus é dado conhecer, por ora. Submeto-me a Ele na certeza de que fará o melhor para meu Espírito. Estou em franca recuperação e a minha lucidez retorna pouco a pouco. Sou grato a todos os que dedicam suas vidas na edificação de pessoas que, como eu, caminham nos escuros trilhos da vaidade e orgulho. Que Deus vos abençoe e proteja!”. – Um Espírito necessitado.

Espírito: Um Espírito necessitado. Sociedade de Estudos Espíritas Allan Kardec São Luís - MA

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