segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Inimigo Íntimo




Como está você, meu filho? Já se deu conta de que a vida está passando e você ainda reclama de dificuldades, infelicidades e insatisfações.

Nosso estado de saúde íntima, meu filho, é o resultado de nossa programação mental e emocional. O que está ao seu redor, seja mau ou bom, é apenas a realidade criada a partir de suas próprias emoções, cujo reflexo também indica tudo aquilo que o incomoda no mundo.

Antes de entrar em contacto com uma nova informação, você crê, alimenta diversas crenças particulares, construídas a partir de sua história até aquele instante. Assim, ao examinar um facto novo, ele se soma às suas convicções e a quem você é, o que acaba por provocar, em seu interior, a elaboração de sua visão pessoal, que geralmente é tida como a verdade acerca desse episódio. A seguir, e somente então, sua mente projecta no mundo exterior essa ideia a respeito do ocorrido – a qual pode ser bem próxima da realidade ou bastante distante dela. Os homens do conhecimento, mesmo junto a meus filhos, já falam bastante destas coisas que nego aprendeu.

Portanto, quando você acredita que há algo de errado, meu filho, seu sistema orgânico, emocional e mental forja essa crença particular de tal maneira e com intensidade que impede você de ver outra coisa, a não ser aquilo que crê existir.

Quer ver? Você se levanta pela manhã acreditando que seu dia será um fracasso, que o sol não brilhou como você queria e que a chuva lá fora estragou ou vai estragar seu dia. Pinta a realidade de forma cinzenta. Naturalmente, o cérebro vai interpretar tudo de acordo com a crença imposta, e realmente, meu filho, o dia vai ser um drama de proporções compatíveis com as emoções que impingiram em seu cérebro a visão dramática que você teima em sustentar.

Para outra pessoa, uma situação idêntica à que você crê incómoda ou geradora de infelicidade pode significar algo maravilhoso ou um a experiência única.

Na época do cativeiro, muitos negros, diante do inevitável – mas temporário – exercício da escravidão, lançaram-se à revolta, à vingança e passaram a vida a lamentar-se da situação a que foram conduzidos para a reeducação de suas almas. Outros, diante da mesma realidade, compreenderam imediatamente que não adiantava, naquele momento, lutar contra o inevitável. Tentaram, assim, tirar proveito da situação. Investiram no trabalho, embora continuassem sendo escravos; aperfeiçoaram seus dons e aprofundaram-se naquilo que já conheciam. Alguns negros, certamente influenciados por sua afinidade com a natureza, tornaram-se indispensáveis a seus senhores, em virtude de se haverem especializado no manuseio de plantas e ervas medicinais, beberagens e todo o conhecimento iniciático que conquistaram. Eram os médicos naturalistas mais experientes que se conhecia, naqueles tempos em que o serviço de saúde escasseava ou praticamente inexistia.

Ao aproveitarem a oportunidade para o aprimoramento de alguns aspectos de suas habilidades, granjearam respeito e, consequentemente, usufruíram de certas concessões oferecidas por seus senhores. Ou seja: transformaram a experiência dolorosa da escravidão em trabalho útil, traduzindo em qualidade aquilo que sabiam fazer. Por certo ainda permaneceram cativos por muito tempo, mas, ao contrário dos outros, revoltados e insatisfeitos, extraíram a dor e a riqueza possível e tiveram, com isso, maior liberdade de acção entre seus irmãos. Conquistaram, através de respeito e do trabalho, benefícios e melhores condições diante da comunidade com que conviviam e, mais ainda: tornaram-se indispensáveis para aqueles que se diziam seus donos. Mais bem tratados que os demais, gozavam de certas regalias, inclusive da possibilidade de ir e vir, pois os senhores conheciam sua dedicação e confiavam que não haveria fuga, pois aqueles negros tinham demonstrado fidelidade a eles.

Porventura eram melhores que os demais? Será que receberam da vida privilégios negados aos outros? De forma alguma, meu filho. O facto é que tais escravos, por certos espíritos mais experientes, resolveram adoptar a atitude de extrair o melhor que a situação tinha a oferecer. Com resignação, mas sem conformismo, aceitaram o que a vida lhes outorgava naquele momento e procuraram olhar para aquele quadro com optimismo. De posse desta mentalidade pacificadora, que não faz combater com a vida, mas a tem como aliada, acreditaram que era possível ver a escravidão como uma chance de se melhorar. Investiram de modo lento e persistente no aperfeiçoamento de si mesmos e de suas faculdades ou, dito de outro modo, na qualidade daquilo que sabiam fazer. Resultado: a vida recompensou seus esforços, proporcionando-lhes reconhecimento, e novas perspectivas se abriram para eles na sua comunidade.

Exemplos assim nos fazem repensar largamente nossas atitudes. Nego-velho vê que muita gente sofre antes do problema se apresentar. Criam uma imagem negativa e sofredora a respeito das questões mais simples do quotidiano e inventam um inferno particular para se queimarem de dor e revolta nas suas chamas. Há casos em que certas pessoas “morrem” antes mesmo da morte chegar, só para depois descobrirem que todo o sofrimento era produto de suas próprias crenças equivocadas acerca dos factos, das pessoas e das circunstâncias. Quando ocorrem casos iguais a este, em que a mente constrói uma realidade de sofrimento, o cérebro logo interpreta a mensagem como verdadeira e trata de transformá-la em algo palpável, embora somente o indivíduo que gerou tais ideias perceba as coisas de forma trágica. Esta situação, meu filho, é o verdadeiro cativeiro da alma, da mente e das emoções. Você permanece prisioneiro daquilo que acredita e das criações mentais que causam desilusão, dor e sofrimento. Tem cativeiro pior que este? Nem no tempo da escravidão, quando nego-velho chorava e trabalhava debaixo dos desmandos dos feitores, havia tanto sofrimento quanto aquele que é gerado pela mente do homem quando acredita na desgraça, no fracasso e na derrota de si mesmo. Para esse tipo de cativeiro, meu filho, não adianta decreto, seja assinado pela Princesa Isabel ou por quem for. Nem mesmo um decreto assinado pelo Cristo com seu próprio sangue seria capaz de libertar meus filhos, se cada um não modificar conceitos e imprimir novo rumo às suas emoções.

A emoção interpreta os factos que ocorrem ao nosso redor ou dentro de nós de modo a dar cor e sabor àquilo que acontece no mundo. Se suas emoções estiverem comprometidas com esta visão mental de autopiedade, meu filho, transformando-o em coitado e boicotado na sua própria felicidade, então tudo o que o rodeia será colorido de acordo com esse estado. Por outro lado, se resolve assumir a sua posição na vida, dar a volta por cima e enfrentar os problemas, tendo-os na conta de desafios, e não de obstáculos para a sua felicidade, suas emoções transformarão a mesma paisagem em algo mais atraente. Você encontrará mais sabor nas lutas e, dessa maneira, não se sentirá derrotado ou impedido de ser feliz. Tudo o que houver será considerado teste de paciência ou chance de aprimoramento, como um desafio para desenvolver capacidades, competências e alcançar maior realização interior.

Por isso meu filho, pare de se lamentar e erga a cabeça para o alto. Avante! Não seja o arquitecto de sua própria infelicidade nem alimente seu cérebro com imagens e programas de pessimismo.

Acreditar na própria derrota ou que as coisas estão erradas ou, ainda, que você não merece a situação é algo que se mostrará desastroso para si. Passe a crer na vida, em novas chances, em renovação e recomeço. Não é tão difícil recomeçar. Mas parece que tem medo de novo, de se aventurar, de prosseguir... A vida nos ensina a todos, mesmo aos desencarnados como nego-velho, que seguir em frente, tentar novamente e do modo diferente – em suma, recomeçar – é sinónimo de progresso, coragem e genialidade.

Temos de acreditar que é possível; que tudo está certo do jeito que é e que os desafios existem para que os enfrentemos, e não para serem convertidos em rosários de lamentações e lágrimas de autopiedade. Dê às suas emoções nova feição, com vistas a descodificar os factos da vida de modo menos trágico. Viva com naturalidade e aprenda a apreciar a beleza da tempestade e da chuva tanto quanto a beleza do sol, do dia claro e da brisa suave. Tudo tem o seu lado belo e seu valor – cabe a você descobri-los. Depende de si ainda, meu filho, que tons ganharão os eventos e as experiências; o mundo, enfim. Programe-se para a felicidade e optimismo: nego-velho sabe que vocês podem fazer isto. Não superestime as sombras, as trevas e a escuridão. Aprenda a tirar proveito de tudo com tranquilidade emocional de alguém que é parceiro da vida.

Pai João de Aruanda pelo médium Robson Pinheiro - trecho do livro “Alforria”.
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Deus é amor e vida!!!

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