segunda-feira, 14 de março de 2011

Umbanda - Fé cristã



UMBANDA – FÉ CRISTÃ
Por Sandro C. Mattos

De uns tempos pra cá, um assunto que não deveria ser polêmico, tomou
conta das diversas listas e comunidades da internet: a Umbanda é ou
não cristã?
Bem, existem aqueles que defendem a idéia de que a Umbanda não poderia
ser cristã, pois esta seria uma religião baseada nos cultos afros.
Dentro da visão desses irmãos, apesar do respeito que demonstram,
Jesus Cristo é apenas uma figura simbólica, relacionada através do
sincretismo criado pelos negros ao Orixá Oxalá, naqueles tempos em que
a Coroa Portuguesa, através do poder da Igreja, impunha aos escravos
sua fé trazida da Europa. E aí, com o passar do tempo e com a
associação dos cultos afros ao espiritismo e ao próprio catolicismo,
teria nascido a Umbanda no Brasil.
Já os que defendem a idéia da Umbanda como um culto cristão, baseiam-
se principalmente nas palavras do Caboclo das Sete Encruzilhadas que
em 15/11/1908 informou aos presentes que estava iniciando ali, um novo
culto, chamado Umbanda, onde espíritos de negros e índios poderiam
praticar a caridade. Disse também que esta nova religião trabalharia
baseada nos Evangelhos de Cristo e que teria como Mestre Supremo:
Jesus.
Minha opinião colocaremos mais adiante, pois, antes disso, observações
devem ser colocadas:
Estamos no início do século XXI, mais precisamente em 2011 (quase 103
anos depois da Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel). Se a Umbanda
não é uma religião baseada nos ditames cristãos, porque então os
umbandistas continuam com a imagem de Cristo no local mais alto do
congá? Afinal de contas não existe mais feitor, sinhozinho ou capitão-
do-mato. Nem a perseguição policial que ocorria no início do século
XX. Mas estamos lá, ajoelhando, orando e pedindo diante de Sua imagem.
Simples: porque no íntimo da grande maioria dos filhos de fé, Cristo é
sem dúvida, o Ser de maior expressão espiritual que passou neste orbe.
Não bastasse isso, é extremamente comum observarmos nossas Entidades,
em especial os Pretos Velhos, clamando forças a zin Nosso Sinhô Jesus
Cristo. Teriam esses Sábios Guias de Luz, medo do sinhozinho, mesmo na
espiritualidade? Ou até mesmo, medo da Igreja Católica? Não, claro que
não. Eles pedem e louvam a Jesus (e até à Nossa Senhora) com imenso
respeito e devoção, assim como rogam aos Orixás, pois sabem que assim
poderão nos conduzir à trilha que nos leva ao Pai. Aliás, não podemos
esquecer que a escravidão durou centenas de anos e que muitos negros
escravos nasceram no Brasil, sendo que, ainda pequenos já se
acostumavam com a religião local, tornando-se cristãos desde tenra
idade. Era comum negros escravos que freqüentavam as missas, alguns
obrigados pelos seus senhores, outros porque cresceram dentro de uma
cultura católica. Além dos Vovôs e Vovós, isso é muito fácil de se
perceber numa gira de baianos ou boiadeiros, que rogam a Nosso Senhor
do Bonfim e a Bom Jesus da Lapa. Até quando tratamos com Exus de Lei,
estes demonstram um respeito e um carinho especial ao “Nazareno”.
Alguns o chamam até de “o Coroado” e se mostram satisfeitos em ter
enxergado a importância em trabalhar baseado nos ensinamentos D’Ele
(que é a mesma de outros líderes religiosos, ou seja, prestar a
caridade livre e desinteressada).
Os próprios caboclos, os ancestrais legítimos deste país, sofreram
influência cristã durante séculos e muitos são os mentores espirituais
que hoje vêm nas casas umbandistas e que foram catequizados. Se isso
foi bom ou ruim, não vem ao mérito, mas esse espírito não deixa de
aceitar os ensinamentos de Cristo, só porque era um indígena. O que
fica é aquilo que lhe foi passado, nesta e em outras encarnações,
afinal, os espíritos, em sua esmagadora maioria, não tiveram uma única
passagem neste orbe. Tanto os negros escravos como os índios
catequizados, tinham uma fé dupla, muitas vezes verdadeira, pois nada
impedia que acreditassem nos seus Deuses e na figura de Cristo e seus
ensinamentos.
Se não bastasse isso, existe um sem-número de pontos cantados que nos
remetem à figura do Messias... “Abre a porta ó gente, que aí vem
Jesus, e ele vem cansado com o peso da cruz...”, “Preto-Velho quando
vem, ele vem aos pés da cruz, vem trazendo proteção para os filhos de
Jesus...” “Jesus nasceu, padeceu e morreu...”, “Seu cavalo corre, sua
espada reluz, sua bandeira cobre todos filhos de Jesus...”, “... Xangô
mora numa cidade de luz, onde mora Santa Bárbara, Oxumarê e Jesus”,
entre outros.
Sem contar as preces utilizadas, inclusive o Pai Nosso Umbandista,
baseado no Pai Nosso ensinado pelo Mestre cerca de 2000 atrás.
Quanto à relação da Umbanda a outros segmentos, notamos forte
influência católica e kardecista (ambas religiões declaradas cristãs),
somada a cultura e fé afro (influência dos espíritos de negros
escravos e de ex-participantes destes cultos que vieram a se tornar
umbandistas).
Respeitando a visão de todos os filhos desta linda religião, porém,
baseado nessas e em outras tantas questões que poderiam ser
formuladas, somadas ainda às palavras do Caboclo das Sete
Encruzilhadas, particularmente, creio sim numa Umbanda CRISTÃ,
universalista, ou seja, que não dá as costas para outros segmentos,
desde que estes estejam voltados à prática da caridade e da evolução
do espírito e, claro, tudo isso somado à fé nos Orixás, Guias e
Protetores Espirituais.
Não creio que tudo isso ainda exista somente por causa de um
sincretismo forçado, em tempos de escravidão, onde a Umbanda sequer
era cultuada como religião em terras brasileiras.
O objetivo do texto não é criar polêmicas ou discussões, até porque
seriam em vão, já que cada pessoa tem o direito de pensar e acreditar
no que quiser, mas apenas de colocar alguns pontos que às vezes passam
despercebidos mesmo durante os debates. E, além disso, tenho a certeza
de que, acreditando N’Ele ou não, Jesus ampara a todos, assim como os
Orixás, que independente até do credo da pessoa, estão sempre abertos
a trabalhar em prol da caridade.
Que o Mestre Jesus Cristo, chamado carinhosamente por nós de Pai
Oxalá, nos cubra com Vosso Manto Sagrado, envolvendo-nos com as
energias que Ele traz do Pai Universal - Deus (ou Zambi, Olorum,
Tupã,......).

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