quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Livre Arbitrio

Autor: Léon Denis
Um dos problemas que mais preocuparam os filósofos e os teólogos é o do livre arbítrio: conciliar a vontade e a liberdade do homem com ofatalismo das leis naturais e com a vontade divina, parecia tanto maisdifícil quanto um cego acaso parecia pesar, aos olhos de muitos, sobreo destino humano. O ensinamento dos espíritos esclareceu o problema: afatalidade aparente que semeia de males o caminho da vida, não é maisque a conseqüência lógica do nosso passado, um efeito que se refere auma causa, é o cumprimento do destino por nós mesmos aceito antes derenascer, e que nossos guias espirituais nos sugerem para nosso bem enossa elevação.
Nas camadas inferiores da criação, o ser não tem ainda consciência; apenas a fatalidade do instinto o impele, e não é senão nos tipos superioresda animalidade que surgem, timidamente, os primeiros sintomas dasfaculdades humanas. A alma, jungida ao ciclo humano, desperta para aliberdade moral, o juízo e a consciência desenvolvem-se cada vez maisno curso de sua imensa parábola: colocada entre o bem e o mal, ela fazo confronto e escolhe livremente, tornada sábia pelas quedas e pelador; e na prova, sua experiência forma-se e sua força mental se afirma.
A alma humana, livre e consciente, não pode mais recair na vida inferior: suas encarnações sucedem-se na dos mundos, até que, ao fim de seu longotrabalho, tenha conquistado a sabedoria, a ciência e o amor, cuja possea emancipará para sempre das encarnações e da morte, abrindo-lhe aporta da vida celeste.
A alma alcança seus destinos, prepara suas alegrias ou dores, exercendo sua liberdade, porém, no curso de sua jornada, na prova amarga e naardente luta das paixões, a ajuda superior não lhe será negada e, seela mesma não a afasta, por parecer indigna dela, quando a vontade seafirma para retomar o caminho do bem, o bom caminho, a providênciaintervém e propicia-lhe ajuda e apoio, Providência é o espíritosuperior, o anjo que vigia na desventura, o Consolador invisível cujasinspirações aquecem o coração enregelado pelo desespero, cujos fluidosvivificadores fortalecem o peregrino cansado; providência é o farolaceso na noite para salvação daqueles que erram no oceano proceloso daexistência; providência é, ainda e sobretudo, o amor divino que sederrama sobre suas criaturas. E quanta solicitude, quanta previdêncianeste amor. Não suspendeu os mundos no espaço, acendeu os sois, formouos continentes, os mares, para servir de teatro à alma, de campo aosseus progressos? Esta grande obra de criação cumpre-se somente para aalma, para ela combinam-se as forças naturais, os mundos deixam asnebulosas.
A alma é nascida para o bem, mas para que ela possa apreciá-lo na justa medida, para que possa conhecer-lhe todo o valor, deve conquistá-lodesenvolvendo livremente as próprias potencialidades: a liberdade deação e a responsabilidade aumentam com sua elevação, pois quanto maisela se ilumina mais pode e deve conformar a sua obra pessoal às leisque regem o universo.
A liberdade do ser é exercida, pois, em um círculo limitado, parte pelas exigências da lei natural que não sobre violações ou desordens nestemundo, parte pelo passado do próprio ser, cujas conseqüências serefletem sobre ele através dos tempos, até a completa reparação.
Assim o exercício da liberdade humana não pode obstar, em caso algum, a execução do plano divino, sem o que a ordem das coisas seriacontinuamente perturbada: acima de nossas vistas limitadas e variáveis,permanece e continua a ordem imutável do universo. Somos quase sempremaus juizes daquilo que é nosso verdadeiro bem; se a ordem natural dascoisas devesse dobrar-se aos nossos desejos, que espantosasperturbações não resultariam disto?
A primeira coisa que o homem faria, se possuísse liberdade absoluta, seria afastar de si todas as causas de sofrimento, e assegurar para siuma vida plena de felicidade: ora, se existem males que a inteligênciahumana tem o dever e os meios de conjurar e destruir, como os queprovêm do ambiente terrestre, outros existem que são inerentes à nossanatureza, como os vícios, que somente a dor e a repressão podem domar.
Neste caso a dor torna-se uma escola, ou antes, um remédio indispensável, pelo qual as provas são apenas uma repartição equânime da infalíveljustiça: é por ignorar os fins desejados por Deus, que nos tornamosrebeldes à ordem do mundo e às suas leis, e se elas são suscetíveis denossas críticas, é apenas porque ignoramos o seu oculto poder.
O destino é conseqüência de nossos atos e de nossas livres resoluções: no suceder-se das existências, na vida espiritual, mais esclarecidos sobrenossas imperfeições e preocupações com os meios de eliminá-las,aceitamos a vida material sob a forma e nas condições que nos parecemadequadas a atingir esta finalidade. Os fenômenos do hipnotismo e dasugestão mental explicam-nos o que acontece em tais casos, sob ainfluência de nossos protetores espirituais; no estado de sonambulismo,a alma empenha-se a realizar uma certa ação em certo momento, porsugestão do magnetizador, e, despertada, sem recordar aparentemente apromessa, executa com exatidão o ato imposto. Assim o homem nãoconserva lembrança das resoluções que tomou antes de renascer, mas,chegada a hora, afronta os acontecimentos previstos, e participa delesna medida necessária ao seu progresso, ou ao cumprimento da leiinexorável.

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