sexta-feira, 16 de agosto de 2013

A Nova Família



Uma nova forma de relacionamento entre dois seres, que em conjunto dão expressão a um casal, está aos poucos a despertar na consciência de muitos, não pelo desejo emocional de o concretizar mas pela nota interna emitida por esses seres que percebem que nenhuma outra forma de relacionamento, que não este, poderá sustentar e estruturar a sua existência em conjunto. 

Com a Nova Terra irão surgir novas famílias, novos hábitos relacionais entre aqueles que irão dar expressão a esse núcleo sagrado que aos poucos irá sendo revelado na acção e na vivência que muitos irão manifestar.

Com o novo Homem, uma nova sociedade será criada à imagem desse arquétipo que nos compete materializar. Nesta estará contida a expressão interna de um programa que ficou por concretizar no passado e que agora, com o retorno simbólico de Adão e Eva ao paraíso perdido, irá finalmente manifestar-se no plano material.

Com a nova família, novas energias irão dar expressão a esse núcleo que irá finalmente cumprir a função estabilizadora de todo um processo civilizacional. O Núcleo familiar será uma verdadeira celebração da Vida no plano físico, e não mais o arrastar de forças cármicas no atrito gerado entre aqueles que hoje ainda lhe dão expressão.

No passado - e os tempos de hoje já são esse passado – dois aspectos da experiência humana neste plano material foram sempre vistos como opostos e inconciliáveis. De um lado a experiência monástica, vivida na reclusão de um mosteiro ou no isolamento de um deserto, do outro a experiência familiar como suporte de todo um processo civilizacional.

Na vivência monástica buscava-se o contacto profundo com o Divino, fazendo dessa experiência um ritual de entrega total ao absoluto. Na vivência familiar, por sua vez, buscava-se a perpetuação da espécie, dos costumes, dos hábitos ancestrais.

Pela oposição forçada a que estas duas formas de experiência sempre foram colocadas, todo um Potencial-Vida-Propósito ficou por revelar. Para o monge, a vivência familiar era um entrave à busca do Divino. Para o casal, a vivência monástica era um obstáculo para a sua vida comum e para a experiência dos vários prazeres e realizações que esta lhe proporcionava.

Hoje, com o despertar do novo Homem, uma nova energia familiar está disponível para a formação dos casais que irão dar expressão a esses núcleos. Finalmente - devido ao amadurecimento de muitos seres e à consciência profunda de que eles são partículas de um todo, completas em si mesmo - essas duas energias poderão fundir-se numa só. 

A energia monástica será levada até ao seio familiar, transformando o Lar num Templo e o casal em dois monges. Será a consagração da família que se tornará num núcleo verdadeiramente sagrado. 

Não mais os apegos estarão presentes no desejo incontido de possuir o outro. Cada ser será livre em si mesmo. Cada um saberá reconhecer sem esforço o espaço do outro sem o invadir, aceitando essa liberdade com a mesma naturalidade com que aceitam a liberdade de um pássaro.

As energias astrais serão removidas pela raiz. Não haverá mais espaço para a paixão, para o ciúme, para a monitorização constante do outro no medo de perder a fonte de abastecimento energético. Serão seres verdadeiramente livres, não estando dependentes do outro para encontrar em si o equilíbrio e a PAZ. Cada um é completo em si mesmo: não há nada a perder, nem nada a ganhar. O relacionamento deixa de ser um jogo entre forças, para passar a ser a expressão real do Amor-Sabedoria onde elementos fricativos não se encontrão mais presentes. 

Esses seres viverão verdadeiramente como monges dentro de um Templo-Lar onde a Nota das duas experiências estará presente no que de mais puro que cada uma delas tem para dar. Serão seres em profundo Silêncio mental, Paz emocional e Harmonia física. Por si só, serão o rosto da nova Terra, a expressão desse novo alvorecer que nos aguarda.

Da energia familiar retirarão a partilha de um espaço e a comunhão de toda uma experiência vivencial nos mais pequenos detalhes. Da energia monástica retirarão o Silêncio, a Impessoalidade e a Entrega. Será uma relação de celebração constante ao Absoluto, não através de rituais, mas do ato simples de existirem em conjunto e união, dando-se a sacralização da família.

Muitos de nós têm a responsabilidade de dar expressão a esse protótipo familiar dentro de uma dimensão em transição, em particular os mais novos. Esses casais serão como ilhas desse futuro que desperta, funcionando como embaixadores da Nova Terra: aqueles que transportarão em si a síntese dessas duas energias até hoje vistas como opostas.

A formação desses casais terá por base seres cuja afinidade espiritual é complementar na partilha conjunta que fizeram em sucessivas encarnações. Não mais fatores de personalidade e condicionamentos cármicos irão interferir na união desses seres, mas a ligação profunda e a afinidade ancestral entre os núcleos internos que os ligam desde sempre. E isto assim será tanto para o outro elemento do casal como para os próprios filhos. Serão, por isso mesmo, famílias formadas numa base vertical e não horizontal como acontece nos dias de hoje. 

Deixará, desse modo, de existir diferenças entre a família física e a família espiritual. Os filhos que reencarnam, membros dessa mesma família espiritual, virão compartilhar no plano físico uma experiência vivencial dentro do ciclo temporal que compete àquela família manifestar no serviço prestado ao Plano Maior. 

Crianças, essas, que virão até este plano através de uma sexualidade consciente por parte dos pais, vista como um ritual de celebração ao Único Ser e, por isso mesmo, algo profundamente sagrado. Não mais essa energia será dispersa no alimentar contínuo das forças da personalidade, mas na sintonia profunda com o Divino, num gesto de devoção incondicional à Vida como um todo.

Para os seres que darão expressão a essas famílias, a sua união será vista como um ato de Serviço ao Plano Espiritual. Eles têm plena consciência que a razão de estarem juntos é Servir e isto será para eles uma fonte de Estabilidade, Alegria e PAZ.

No entanto, a todos aqueles que aspiram um dia poder vir dar este passo, digo para não alimentarem expectativas que tantas vezes são o resultado de projeções emocionais e mentais. Para que possam estar prontos para assumir esta nova Nota, têm primeiro que se transformar profundamente. Não há como dar expressão a um casal que trás em si a Nova Terra com as velhas forças e com os velhos trajes.

Só pelo facto de existir em nós o desejo de que tal possa acontecer, já demonstra o quanto não estamos preparados para dar esse passo. Essas novas famílias não são formadas por nenhum processo humano convencional, mas pela arquitetura interna projetada para esta encarnação e, assim sendo, apenas a decorrência natural do nosso amadurecimento espiritual nos levará ao ponto de interceção exato entre esses dois seres dentro do plano definido para as suas vidas nesta dimensão.

Como poderemos querer dar expressão a uma dessas famílias se ainda existir em nós o apego, o sentido de propriedade em relação ao outro, a necessidade astral de receber energia do exterior para nos sentirmos completos? Como podemos querer formar uma família sagrada se a sintonia com os núcleos internos do nosso Ser ainda for intermitente? Se a nossa entrega ao Divino ainda for incompleta? Se a nossa consciência de serviço ao Plano ainda não estiver estável e absolutamente clara aos nossos olhos?

Enquanto isto não acontecer, não há como dar expressão a essa nova família e se o tentarmos fazer movidos por forças astrais ou mentais, cairemos em mais uma das muitas ilusões nas quais ainda estamos mergulhados.

Assim sendo, antes que possamos dar expressão a essa nova forma de dois seres se relacionarem dentro da energia do casal, devemos primeiro trabalhar os nossos corpos na entrega incondicional ao Divino e só então, sem que nenhuma vontade humana esteja presente, é que esse encontro maior poderá acontecer na decorrência natural de um processo que nos estava destinado viver.

Que sejamos, pois, humildes no nosso querer, sinceros na nossa entrega e simples nos passos com que trilhamos os caminhos deste mundo. Só então esse diamante nos poderá ser colocado nas mãos, pois já não nos apegaremos a este nem o tentaremos possuir.

Pedro Elias

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